Por Paul Singer
"Danos
ambientais como efeito estufa e extinções não entram no PIB. O esforço de
limpeza criado por um derramamento, aliás, faz com que fique maior",
escreve Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do
Trabalho e Emprego, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo,
29-04-2012.
Ou seja, segundo o economista, "quanto mais desastres um país
sofre, mais o seu PIB aumenta, de modo que o seu crescimento às vezes não
representa o aumento do bem-estar do povo, mas a redução".
Desta maneira, "ganha importância a iniciativa do Butão, um
pequeno reino no Himalaia - continua Singer - que no ano passado propôs à
Assembleia Geral da ONU que a contabilidade nacional adotada pelas nações
substitua o PIB pelo FIB, a Felicidade Interna Bruta, que o próprio Butão adota
desde 2008."
O PIB é o grande objeto de desejo das forças que governam nações.
Ele é a somatória das transações - compras e vendas - realizadas nos mercados
de um país em um ano.
Como a grande maioria dos bens e serviços produzidos se destina à
venda, o valor de todas as transações corresponde ao total de mercadorias
produzidas.
De um modo ou outro, as mercadorias produzidas são transacionadas
e passam a satisfazer necessidades e desejos dos que as adquiriram. Daí a noção
de que o PIB mede a riqueza produzida, que ao ser consumida passa a ser a causa
eficiente do bem-estar da população.
Daí a importância econômica e política do PIB e de sua variação
anual, pela qual se mede o sucesso ou o fracasso dos governos. Se não for o único
medidor, é certamente um dos mais importantes.
Por isso, as nações se esforçam pela expansão perene e intensa de
seu PIB. Mas, apesar de seu prestígio, o PIB, enquanto medidor indireto de
bem-estar, tem lacunas.
A primeira é não incorporar o desgaste de recursos naturais,
porque ninguém precisa pagá-lo. Evidentemente, se a terra sujeita a sucessivos
plantios e colheitas perde a fecundidade, alguém pagará no futuro. O mesmo vale
para o esgotamento de jazidas de petróleo, de minerais e da extinção de espécies
de peixes e outras prendas da natureza.
Essa lacuna do PIB se torna mais grave quando a humanidade se
defronta com os efeitos acumulados do consumo de combustíveis fósseis, que
agravam o efeito estufa, aquecendo o planeta e trazendo calamidades. O PIB,
além de não medir o custo da perda dos recursos naturais, contabiliza como
positivos os gastos das nações para lutar contra desastres naturais como
incêndios florestais, poluição de oceanos por derramamentos de petróleo,
terremotos e maremotos.
Quanto mais desastres um país sofre, mais o seu PIB aumenta, de
modo que o seu crescimento às vezes não representa o aumento do bem-estar do
povo, mas a redução.
A outra lacuna do PIB é que ele ignora a forma como os produtos
são distribuídos entre a população. Para medir a contribuição do PIB ao
bem-estar popular, o seu valor é dividido pelo número de habitantes do país -
daí o PIB per capita, que pressupõe que todos participam dele por igual, o que
nunca ocorre.
No capitalismo neoliberal hoje prevalecente, a desigualdade de
renda está em aumento: os pobres, em sua maioria, ficam mais pobres, e os ricos
ficam ainda mais ricos.
Por causa dessas falhas do PIB, ganha importância a iniciativa do
Butão, um pequeno reino no Himalaia, que no ano passado propôs à Assembleia
Geral da ONU que a contabilidade nacional adotada pelas nações substitua o PIB
pelo FIB, a Felicidade Interna Bruta, que o próprio Butão adota desde 2008.
O FIB foi construído para medir com exatidão a variação da
felicidade da população. Após diversas consultas à população, os cientistas
concluíram que a felicidade pode ser medida pelo grau de suficiência em nove
áreas: bem-estar psíquico, saúde, uso do tempo, educação, diversidade cultural,
boa governança, vitalidade comunitária, diversidade ecológica e padrões de
vida.
O governo do Butão chegou à seguinte compreensão de felicidade:
"Sabemos que a felicidade verdadeira, fiel a si mesma, não pode existir
enquanto outros sofrem. Ela provém apenas de servir aos outros, vivendo em
harmonia com a natureza".
Em julho de 2011, o reino do Butão apresentou à Assembleia Geral
da ONU, com o apoio de 68 nações, uma proposta de resolução sobre
"Felicidade: por uma abordagem holística ao desenvolvimento", que foi
adotada por unanimidade pelos 193 países-membros da ONU.
Essa resolução urge uma abordagem mais inclusiva, equitativa e
equilibrada, que promova o desenvolvimento sustentável, erradicação da pobreza,
felicidade e bem-estar de todos os povos.
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